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Cenipa apresenta relatório do acidente que causou a morte de Marília Mendonça e mais quatro pessoas

[Foto: Reprodução / Cenipa]

O relatório final da perícia realizada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre o acidente que causou a morte da cantora sertaneja Marília Mendonça e mais quatro pessoas foi apresentado aos advogados e familiares das cinco vítimas na tarde desta segunda-feira (15/05).

O relatório aponta que não houve falha mecânica durante o voo e apresenta ainda que “houve uma avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave”. Segundo o Cenipa, “a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’ em procedimentos de pouso sob VFR”.

Outro ponto do relatório aponta que o piloto estava saudável fisicamente e mentalmente e tinha “indicação de fazer uso de lentes corretoras”, mas que “não foi possível confirmar se ele fazia uso de lentes corretoras no momento do acidente”. É citado ainda que os pilotos possuíam habilitações válidas.

Mais cedo, o advogado que representa as família da cantora, Robson Cunha, disse que “de modo geral, o Cenipa entende que não houve, por parte das decisões do piloto, nenhum erro. Todas as decisões que foram tomadas pelo piloto na ocasião, ainda que fora de um plano de voo, elas não são equivocadas ou erradas”. O relatório divulgado pelo Cenipa nesta segunda-feira (15) classifica que o “julgamento de pilotagem” “contribuiu” para o acidente.

O relatório mostra ainda que a aeronave bateu em um cabo para-raios de uma linha de transmissão de energia da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que, de acordo com o texto, “possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo”.

O resultado das investigações apresentadas afirma que “a linha de transmissão de 69kV não se enquadrava nos requisitos que a qualificassem como obstáculo ou objeto passível de ser sinalizado”.

Segundo o Cenipa, a colisão entre a aeronave e o cabo para-raios “resultou em esforços de tração que arrancaram o motor esquerdo de sua fixação, ainda em voo, e ocasionou a total perda do controle da aeronave”, causando o impacto no solo e danos substanciais e fazendo com que todos os ocupantes da aeronave sofressem “lesões fatais”.

Os relatórios do órgão são realizados como forma de prevenir ocorrências aeronáuticas e em “nenhum caso tem como objetivo criar uma presunção de culpa ou responsabilidade”.

Nas conclusões da investigação realizada pelo Cenipa estão:

  • os pilotos estavam com os Certificados Médicos Aeronáuticos (CMA) válidos;
  • os pilotos estavam com as habilitações de Avião Multimotor Terrestre (MLTE) e Voo por Instrumentos – Avião (IFRA) válidas;
  • os pilotos estavam qualificados e possuíam experiência no tipo de voo;
  • a aeronave estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido até 01JUL2022;
  • a aeronave estava dentro dos limites de peso e balanceamento;
  • as escriturações das cadernetas de célula, motores e hélices estavam atualizadas;
  • não se evidenciou qualquer condição de falha ou mau funcionamento de sistemas e/ou componentes da aeronave que pudesse ter afetado o desempenho ou o controle em voo;
  • não se evidenciaram alterações de ordem médica ou psicológica, no período anterior ao acidente, que pudessem ter afetado o desempenho dos pilotos em voo;
  • as condições meteorológicas eram propícias à realização do voo;
  • a situação do aeródromo de SNCT era regular, tanto com relação à inscrição no cadastro de aeródromos da ANAC, quanto com relação à aprovação do Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromo (PBZPA) junto ao DECEA;
  • o aeródromo de SNCT possuía Superfícies de Proteção ao Voo Visual (SPVV) para aeronaves críticas de “Categoria de Performance B”; havia uma linha de transmissão de 69 kV fora dos limites de Zona de Proteção de Aeródromo (ZPA) de SNCT;
  • a linha de transmissão de 69 kV não se enquadrava nos requisitos que a qualificassem como um obstáculo ou objeto passível de ser sinalizado;
  • o cabo para-raios da linha de transmissão de 69 kV possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo;
  • a aproximação do PT-ONJ foi iniciada a uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de “Categoria de Performance B” e com uma separação em relação ao solo muito reduzida;
  • a colisão da aeronave contra o cabo para-raios resultou em esforços de tração que arrancaram o motor esquerdo de sua fixação, ainda em voo, e ocasionou a total perda de controle da aeronave;
  • a aeronave impactou o solo com elevada razão de afundamento, com grande inclinação lateral para a esquerda e atitude próxima à nivelada;
  • a aeronave teve danos substanciais; e
  • todos os ocupantes sofreram lesões fatais.

O Acidente

No dia 5 de novembro de 2021, a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas seguiam para o município de Caratinga, localizado em Minas Gerais, quando o avião modelo Beech Aircraft, prefixo PT-ONJ, caiu momentos antes do pouso.

Marília tinha 26 anos de idade e colecionava sucessos musicais sertanejos. Além dela, estavam no voo mais quatro pessoas:

  • Henrique Ribeiro – produtor;
  • Abicieli Silveira Dias Filho – tio e assessor da cantora;
  • Geraldo Martins de Medeiros – piloto;
  • Tarciso Pessoa Viana – copiloto.

O avião havia decolado do aeroporto de Santa Genoveva (SBGO), em Goiânia (GO), com destino ao aeródromo de Caratinga (SNTC), em Ubaporanga, Minas Gerais, onde a cantora se apresentaria naquela noite.

Na data do acidente, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) emitiu uma nota informando que a linha de distribuição “atingida pela aeronave” no acidente que vitimou Marília Mendonça e mais quatro pessoas “está fora da zona de proteção do Aeródromo de Caratinga”.

Ainda segundo a nota, a companhia “segue rigorosamente as Normas Técnicas Brasileiras e a regulamentação em vigor em todos os seus projetos”.

A Cemig lamentou o acidente e informou que as investigações irão esclarecer as causas do acidente.

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