Operação policial no Complexo de Manguinhos deixa um morto e funcionária da Fiocruz fica ferida após tiro atingir prédio da instituição
[Foto: Ilustrativa]
Uma operação policial realizada na manhã desta quarta-feira (08/01) no Complexo de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro, deixou pelo menos uma pessoa morta e gerou críticas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com a Polícia Civil, o morto seria um dos gerentes do tráfico da favela do Mandela, atingido durante troca de tiros com os agentes.
A Polícia Civil informou que dois outros suspeitos foram alvejados e caíram no rio que corta a região. Buscas estão sendo realizadas com mergulhadores. Um terceiro atingido foi socorrido e encaminhado ao hospital, mas seu estado de saúde não foi divulgado.
A ação, que integra a Operação Torniquete, teve como objetivo combater o roubo e a receptação de cargas na região, além de enfraquecer as atividades de facções criminosas. Durante a operação, quatro armas de fogo e diversas drogas, como cocaína, crack, maconha e lança perfume, foram apreendidas. Um homem alvo de mandado de prisão foi detido, e dois funcionários terceirizados que prestam serviços para a Fiocruz foram presos em flagrante.
Conflitos na Fiocruz
O campus da Fiocruz, localizado próximo ao Complexo de Manguinhos, foi diretamente afetado pela operação. A instituição divulgou nota repudiando a entrada de agentes policiais em suas instalações sem aviso prévio ou autorização. Um supervisor de vigilância foi detido sob suspeita de colaborar com criminosos em fuga.
Um dos incidentes mais graves foi o disparo que atingiu o vidro do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos, onde são produzidas vacinas e medicamentos. Uma funcionária ficou ferida por estilhaços e recebeu atendimento médico. A Fiocruz classificou a ação como “arbitrária”, acusando a polícia de colocar em risco a vida de trabalhadores, pesquisadores, estudantes e pacientes.
Segundo a nota, no momento da operação, o campus abrigava centenas de pessoas, incluindo crianças que participavam da colônia de férias organizada pelo sindicato dos trabalhadores da Fiocruz (Asfoc).
Justificativa da Polícia Civil
A Polícia Civil alega que os disparos que atingiram o instituto foram realizados por integrantes de uma facção criminosa. Em nota, os agentes reforçaram que criminosos frequentemente utilizam prédios públicos como refúgio durante operações, citando um episódio de 2011, quando cinco homens foram presos no campus da Fiocruz ao tentarem escapar da polícia.
Nota de repúdio do sindicato
O Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (fundado sob o nome de Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz – Asfoc) criticou a operação. Em nota, o sindicato destacou a ameaça à integridade física e emocional dos presentes no campus, incluindo pacientes vulneráveis, crianças, idosos e outros frequentadores.
Nota de repúdio da Asfoc sobre ação da Polícia Civil dentro da Fiocruz
A Asfoc repudia a ação realizada pela Polícia Civil, na manhã desta quarta-feira (08/01), que entrou de forma arbitrária no Campus da Fiocruz em Manguinhos, com a alegação de uma operação na comunidade da Varginha, próxima à instituição. De acordo com a Agência Fiocruz de Notícias, ligada à presidência da Fiocruz, a entrada e a movimentação dos policiais se deu sem autorização ou conhecimento prévio da Fiocruz.
É inaceitável que ações realizadas desta forma coloquem em risco a integridade física e emocional de todos e todas presentes no campus Manguinhos-Maré. Uma trabalhadora foi atingida por estilhaços de um projétil que atingiu Bio-Manguinhos. Um funcionário da empresa que presta serviços para a Gestão de Vigilância e Segurança Patrimonial da Fiocruz, que atuava supervisionando os procedimentos de evacuação das áreas com maior risco no confronto, foi algemado e levado para a delegacia, sob a alegação não comprovada de colaborar com criminosos.
Além disso, estiveram sob ameaça centenas de frequentadores do campus, como fornecedores, consultores e pesquisadores externos, e também a imensa maioria de pacientes que buscam atendimento, bastante vulneráveis, inclusive idosos e bebês. Como agravante, estavam no campus dezenas de crianças, filhos e filhas de servidores, que participam da Colônia de Férias do sindicato.
Repudiamos veementemente a postura da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP) do nosso estado. Ainda que a ausência de qualquer comunicado por parte da SESP pudesse refletir uma necessidade de sigilo de uma operação, nada justifica o silêncio após a desastrosa conduta policial que colocou em risco a segurança de trabalhadores e trabalhadoras, alunos(as) e professores.
Em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e de toda a comunidade Fiocruz, a Asfoc exige prontos esclarecimentos do governo do estado quanto ao ocorrido, assim como a garantia de que situações como essa não se repetirão.
Pela segurança real dos trabalhadores e trabalhadoras da Fiocruz
Diretoria Executiva Nacional da Asfoc-SN
Com informações da Agência Brasil.