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Pesquisa revela que oito em cada dez professores da educação básica consideram desistir da carreira

[Foto: Richard Souza / AEF]

Uma pesquisa inédita divulgada pelo Instituto Semesp, nesta quarta-feira (08/05), revelou que oito em cada dez professores da educação básica já cogitaram desistir da carreira docente. Os motivos apontados incluem o baixo retorno financeiro, a falta de reconhecimento profissional, a carga horária excessiva e a falta de interesse dos alunos.

O estudo, realizado entre 18 e 31 de março de 2024, entrevistou 444 docentes das redes pública e privada, do ensino infantil ao médio, em todas as regiões do país. Os resultados indicam que 79,4% dos professores já pensaram em abandonar a profissão, enquanto 67,6% se sentem inseguros, desanimados e frustrados em relação ao futuro profissional.

Os principais desafios apontados pelos professores incluem a falta de valorização e estímulo da carreira, a falta de disciplina e interesse dos alunos, a ausência de apoio e reconhecimento da sociedade, e a falta de envolvimento e participação das famílias dos alunos.

A pesquisa também revela que mais da metade dos professores (52,3%) já enfrentou algum tipo de violência enquanto exercia sua atividade, destacando agressões verbais, intimidação e assédio moral como as formas mais comuns de violência enfrentadas. Os principais perpetradores são os próprios alunos, seguidos por alunos e responsáveis, e funcionários da escola.

Apesar dos desafios, a maioria dos professores (53,6%) se declara satisfeita ou muito satisfeita com a carreira. Os principais motivos para continuarem nas salas de aula incluem o interesse em ensinar e compartilhar conhecimento, a satisfação em ver o progresso dos alunos e a própria vocação.

“A paixão pelo processo de ensinar e aprender, contribuindo para a evolução das pessoas”, destaca um dos professores entrevistados, refletindo o sentimento compartilhado por muitos colegas de profissão.

Licenciatura

Segundo informações da pesquisa, o Brasil conta atualmente com 9,44 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, com a maioria frequentando instituições privadas (78%). No entanto, apesar do aumento da oferta de cursos, a taxa de matrícula permanece aquém das metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Até 2022, apenas 18,9% dos jovens de 18 a 24 anos estavam matriculados no ensino superior, longe da meta de 33% estabelecida para 2024.

Apenas 17% dos alunos do ensino superior estão cursando licenciaturas, o equivalente a 1,67 milhões de universitários. Pedagogia se destaca como o curso com o maior número de estudantes em cursos presenciais diurnos e como o mais popular em ensino a distância (EAD).

Apesar do alto número de matrículas, os dados revelam uma taxa significativa de desistências nos cursos de licenciatura, com cerca de 60% dos estudantes da rede privada e 40% da rede pública abandonando a formação. Além disso, apenas 6,6% dos entrevistados demonstraram interesse em cursar áreas relacionadas à educação.

Diante desse cenário, Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, enfatiza a necessidade de repensar o modelo de oferta dos cursos de licenciatura, incluindo uma abordagem mais prática e uma maior capacitação em tecnologia. Ela ressalta a importância de bolsas permanentes para alunos de classes sociais mais baixas, visando evitar evasões e permitir que os alunos se dediquem integralmente aos estudos.

“Nós pensamos que é necessário repensar também o modelo de oferta dos cursos de licenciatura, com essa campanha que estamos fazendo para atrair os jovens para os cursos de licenciatura. Os currículos têm que ter mais prática e mais capacitação para esse uso de tecnologia, a necessidade de financiamento das mensalidades, porque a maioria dos que vão para o curso de licenciatura é de uma classe social mais baixa e, por isso, a necessidade de uma bolsa permanência para o aluno não evadir e não precisar trabalhar”, diz Lúcia Teixeira.

Ensino a distância

Além disso, a discussão sobre a formação a distância tem sido ampliada, levando o Ministério da Educação (MEC) a revisar o marco regulatório dessa modalidade. Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, destaca a importância de uma avaliação mais rigorosa da qualidade dos cursos, independentemente da modalidade de ensino. Ele enfatiza que a presencialidade não é necessariamente a única solução, mas sim a qualidade do ensino, inclusive nos cursos a distância.

A pesquisa realizada pelo Instituto Semesp também revela que 50,1% dos docentes discordam parcial ou totalmente da afirmação de que o ensino a distância não é adequado. Contudo, 55,7% acreditam que os cursos de licenciatura devem ser ofertados exclusivamente na modalidade presencial, destacando a complexidade desse debate e a diversidade de opiniões entre os profissionais da educação.

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