Pesquisa revela que apenas 11% das escolas públicas brasileiras possuem internet na velocidade adequada
[Foto: Ilustrativa / Aline Souza / AEF]
Nos últimos anos, a qualidade da Internet nas escolas públicas brasileiras apresentou avanços significativos, porém o uso pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) ainda enfrenta desafios. Das 137.208 escolas estaduais e municipais no Brasil, 89% estão conectadas à Internet, mas apenas 62% utilizam a rede para o ensino e aprendizagem, e somente 29% possuem dispositivos como computadores, notebooks ou tablets para acesso dos alunos.
Os dados são do levantamento “Panorama da qualidade da Internet nas escolas públicas brasileiras”, realizado pelo Ceptro.br do NIC.br, revelando que das 32.379 escolas monitoradas pelo Medidor Educação Conectada, apenas 11% cumprem a meta de 1 Mbps por aluno no maior turno, conforme a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (ENEC).
Paulo Kuester Neto, supervisor de projetos do NIC.br, enfatizou que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm se tornado cada vez mais relevantes nas atividades em sala de aula, reforçando a necessidade de uma conexão à rede adequada para todos os estudantes.
“As TIC têm se tornado cada vez mais relevantes nas atividades em sala de aula, o que, a reboque, reforça a necessidade de uma conexão à rede apropriada e capaz de atender a todos os estudantes. No contexto geral, observamos nos últimos anos, uma evolução na oferta de Internet para fins educacionais e no número de escolas públicas que passaram a ter 1 Mbps por aluno, mas ainda há espaço para melhorias. Vale destacar que o Ministério da Educação tem se mobilizado para a universalização da conectividade em consonância com os parâmetros estabelecidos pela ENEC”, enfatizou Paulo Kuester Neto.
Segundo a pesquisa a “limitação de velocidade impacta a introdução de práticas educacionais modernas, especialmente em atividades que exigem maior banda, como o streaming de vídeo.”
Desigualdades
O Norte e Nordeste apresentaram menor cobertura de qualidade, enquanto Sul, Sudeste e Centro-Oeste mostram maior universalização da conectividade. As escolas em áreas rurais, indígenas e assentamentos têm menor acesso em comparação com as áreas urbanas.
Paulo Kuester Neto, destacou a existência de desigualdades significativas na conectividade no locais onde as escolas estão inseridas.
“Também observamos desigualdades em termos de conectividade quando comparamos escolas instaladas em áreas rurais, indígenas e assentamentos com aquelas que funcionam em áreas urbanas”, disse.
Mesmo com a média nacional de velocidade de download por aluno ainda abaixo de 1 Mbps, houve uma melhora de 0,19 Mbps em 2022 para 0,26 Mbps em 2023. Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás lideram com cerca de 0,5 Mbps por aluno, enquanto Amazonas, Acre e Amapá possuem aproximadamente 0,1 Mbps.
Para Kuester Neto, se as tecnologias educacionais não forem encaradas como um direito, elas têm o potencial de ampliar desigualdades, ao invés de reduzi-las. Ele ressaltou que a análise realizada pelo NIC.br apontou discrepâncias nas condições de acesso a recursos digitais pedagógicos em diferentes cenários.
“A análise que fizemos apontou discrepâncias de condições de acesso a recursos digitais pedagógicos em diferentes cenários. O desafio de ampliar o uso de tecnologia em sala de aula não se restringe a garantir conexão, mas em oferecer Internet de qualidade e dispositivos suficientes aos estudantes”, finalizou o supervisor de projetos.
O Medidor Educação Conectada está presente em 57% das escolas municipais e estaduais, monitorando a qualidade da conexão a cada quatro horas, com incentivo do Ministério da Educação. O estudo utilizou também dados do Censo Escolar da Educação Básica do Inep, considerando diferentes recortes geográficos e comparações entre 2022 e 2023.
Estados
Os estados do Amapá, Amazonas e Roraima registraram os maiores avanços na conectividade das escolas públicas em 2023, apresentando aumentos significativos na quantidade de escolas com acesso à Internet para fins de aprendizagem, com crescimentos de 46%, 36% e 22%, respectivamente, em relação ao ano anterior.
Outros estados também mostraram progresso, embora em menor escala. O Maranhão teve um aumento de 17%, seguido pela Bahia com 15%, Alagoas com 12%, Pará e Ceará com 10% cada, Acre com 9%, Rio de Janeiro com 8%, Pernambuco com 7%, Espírito Santo com 6%, Distrito Federal com 5% e Rondônia com 3%.
Os estados de São Paulo e Paraná não apresentaram crescimento, pois já haviam atingido quase 100% de conectividade nas escolas em 2022.
Professores
Ainda de acordo com a pesquisa TIC Educação 2022, apenas 29% dos professores da rede municipal utilizam essas tecnologias, concentrando-se principalmente na região Centro-Oeste e nas capitais. Em contraste, 63% dos professores da rede privada fazem uso regular dessas ferramentas.
Um dos principais obstáculos enfrentados pelos professores da rede pública é a insuficiência de computadores para os alunos. A pesquisa revela que 79% dos educadores afirmam que a falta de dispositivos dificulta significativamente o uso de tecnologias digitais na educação. O problema é mais acentuado em escolas públicas localizadas em regiões remotas, especialmente aquelas geridas por municípios ou que atendem a estudantes de grupos vulnerabilizados.
O documento cita, ainda, a “pandemia COVID-19, em 2020, quando apenas alguns dos estudantes, especialmente provenientes de escolas privadas, deram continuidade ao processo de ensino e de aprendizagem na modalidade remota, enquanto outros estavam impossibilitados de seguir adiante devido à falta de acesso à Internet em casa, à baixa qualidade da conexão e, até mesmo, à ausência de equipamentos de acesso.”
Solução
De acordo com a pesquisa, para garantir a inclusão digital nas escolas públicas brasileiras, é fundamental assegurar uma infraestrutura básica a preços acessíveis. Essa infraestrutura deve contemplar três elementos essenciais: eletricidade, Internet de qualidade e equipamentos suficientes para os estudantes.
- Eletricidade
- Internet de Qualidade
- Equipamentos Suficientes
*Com informações Panorama da qualidade da Internet nas escolas públicas brasileiras