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Biofábrica Wolbachia é inaugurada em Belo Horizonte.

[Foto: Divulgação / Erasmo Salomão / MS]

O Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o governo de Minas Gerais e a prefeitura de Belo Horizonte, inauguraram nesta segunda-feira (29) a Biofábrica Wolbachia, localizada no bairro Gameleira, região oeste da capital mineira. Com uma área de 4 mil m², a nova unidade conta com laboratórios dedicados à produção do método Wolbachia, uma tecnologia no combate à dengue e outras arboviroses.

A gestão da biofábrica será conduzida pela Fiocruz, em parceria com o World Mosquito Program (WMP), detentor da patente da tecnologia. A previsão é que as operações tenham início em 2025, com a unidade responsável por todo o ciclo dos Wolbitos, desde a produção de ovos até a fase adulta dos mosquitos, além da distribuição desses materiais biológicos e administração das equipes.

Estima-se que a produção semanal da Biofábrica de Belo Horizonte alcance dois milhões de mosquitos, os quais, ao serem liberados no ambiente, se reproduzirão com os Aedes aegypti locais, estabelecendo uma nova população de mosquitos não transmissores de dengue e outras doenças.

Na primeira fase do projeto em Minas Gerais, os mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia serão soltos na cidade de Brumadinho e em outros 21 municípios da Bacia do Rio Paraopeba. A expectativa é que, posteriormente, a distribuição dos mosquitos seja expandida para todos os municípios do estado, conforme planejamento da Secretaria Estadual de Saúde.

Método Wolbachia

O método Wolbachia consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, a qual impede que os vírus da dengue, Zika e chikungunya se desenvolvam no inseto, reduzindo assim a transmissão dessas doenças. Esses mosquitos, conhecidos como Wolbitos, não são geneticamente modificados e não transmitem outras enfermidades.

Após a liberação no ambiente, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os mosquitos locais, contribuindo para a formação de uma nova geração de mosquitos que não são vetores dessas arboviroses. Com o tempo, a proporção de mosquitos portadores do microrganismo aumenta, mantendo-se elevada sem a necessidade de novas liberações.

Segundo o Ministério da Saúde, o Método Wolbachia já apresentou resultados promissores em Belo Horizonte e outras cidades do país. Em Niterói (RJ), por exemplo, houve uma redução significativa nos casos de dengue, Zika e chikungunya após a implementação da tecnologia. Além disso, outras localidades, como Rio de Janeiro, Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Joinville (SC), já adotaram o método com sucesso.

O recursos utilizados para a obra da Biofábrica, que começou em fevereiro de 2023, vêm de um acordo destinado a reparar os danos provocados pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho, em janeiro de 2019.

A tragédia não só ceifou a vida de 272 pessoas, mas também desencadeou uma série de consequências, tanto sociais quanto ambientais, na região afetada. Como parte desse acordo, além da construção da Biofábrica, está prevista a montagem dos equipamentos necessários e o financiamento das operações pelos próximos cinco anos.

A construção do prédio da Biofábrica recebeu um aporte de aproximadamente R$ 20 milhões, e para a fase operacional, estão destinados mais R$ 57 milhões, conforme informações do Governo do Estado de Minas Gerais.

Estratégia

A inauguração da Biofábrica Wolbachia em Belo Horizonte marca um avanço significativo no combate às arboviroses, como dengue, Zika e chikungunya, no Brasil. De acordo com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, “a ampliação de cidades utilizando o Método Wolbachia e a construção de novas fábricas, como esta de Belo Horizonte, são de grande importância para enfrentarmos as futuras epidemias e para protegermos mais ainda a população brasileira. Esta tecnologia é a prova de que a ciência tem que ser cada vez mais incentivada e valorizada”.

O plano de expansão do Ministério da Saúde prevê a inauguração de duas novas unidades no Ceará e no Paraná, além das já existentes no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. “Isso é fruto do investimento na ciência, são mais de dez anos de pesquisas. Estamos aqui para celebrar a conquista da ciência que é preservar e salvar vidas”, ressaltou a secretária Maciel durante o evento de inauguração.

O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, enfatizou o compromisso da instituição em buscar soluções inovadoras para combater as arboviroses. “A construção de novas biofábricas, bem como o aumento da produção nas biofábricas já existentes, poderão garantir a expansão do Método Wolbachia e avançarmos com as estratégias do Ministério da Saúde”

Entenda como funciona o Método Wolbachia no combate às arboviroses

O Método Wolbachia tem se destacado como uma estratégia inovadora no combate às arboviroses, como dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana. O processo consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia em áreas afetadas pelas doenças. Esses mosquitos, chamados de Wolbitos, não são geneticamente modificados e não transmitem doenças.

A Wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, mas não naturalmente encontrado no Aedes aegypti. Quando introduzida nesses mosquitos, a Wolbachia impede o desenvolvimento dos vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana dentro do inseto, tornando-os incapazes de transmitir essas doenças.

Após a liberação no ambiente, os mosquitos Wolbitos se reproduzem com os mosquitos Aedes aegypti locais. Com o tempo, a proporção de mosquitos com Wolbachia aumenta significativamente, até se tornar dominante na população local. Isso leva à redução ou até mesmo eliminação dos mosquitos transmissores das arboviroses, contribuindo para a diminuição da incidência dessas doenças.

Essa abordagem não apenas controla as arboviroses, mas também oferece uma alternativa sustentável e ecologicamente correta para o combate aos mosquitos transmissores. Com sua eficácia comprovada em diversas regiões, o Método Wolbachia se destaca como uma poderosa ferramenta na luta pela saúde pública e no bem-estar das comunidades afetadas.

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