Governador Cláudio Castro | Foto: Rafael Wallace / Governo do RJ
[Foto: Rafael Wallace / Governo do RJ]
A cidade do Rio de Janeiro viveu um dia de caos nesta terça-feira (28) devido à “Operação Contenção”, deflagrada pelas polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte. Considerada a maior operação de segurança dos últimos 15 anos no estado e também a mais letal da história, a ação mobilizou 2,5 mil agentes e teve como objetivo declarado prender lideranças criminosas e conter a expansão territorial da facção Comando Vermelho.
A operação foi resultado de mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento. Em retaliação, criminosos receberam ordens para fechar as principais vias da cidade, usando drones com bombas contra os policiais, incendiando veículos e atravessando ônibus em pistas centrais. O município entrou em estágio 2 de atenção, e a Polícia Militar convocou toda a tropa, incluindo pessoal administrativo.
Autoridades se Posicionam sobre a Operação
A letalidade da operação e o caos urbano geraram fortes reações institucionais, marcadas por uma troca de acusações entre os governos estadual e federal.
- Cláudio Castro (Governador do RJ): O governador defendeu a ação, classificando a situação como “narcoterrorismo”. “Estamos atuando com força máxima e de forma integrada para deixar claro que quem exerce o poder é o Estado”. Castro reconheceu que a operação excedeu as competências estaduais, mas afirmou que continuará “excedendo”. Ele cobrou mais apoio federal, afirmando que o Rio está “sozinho nesta guerra” e que não solicitou apoio desta vez porque pedidos anteriores de blindados foram negados. O governador também solicitou ao governo federal a transferência imediata de 10 lideranças criminosas para presídios federais.
- Ricardo Lewandowski (Ministro da Justiça): O ministro rebateu o governador, afirmando que não recebeu “absolutamente nada”, nenhum pedido de apoio para esta operação. Lewandowski negou que pedidos anteriores tenham sido recusados, citando que a transferência de presos foi atendida no início do ano. Ele qualificou a operação como “cruenta” e expressou solidariedade “às famílias dos policiais mortos, e minha solidariedade às famílias dos inocentes que também pereceram”.
- Eduardo Paes (Prefeito do Rio): O prefeito declarou apoio à ação do governo estadual, afirmando que “o Rio de Janeiro não vai e não pode ficar refém de grupos criminosos”. Ele determinou que os órgãos municipais funcionassem normalmente, decisão que foi criticada por cidadãos nas redes sociais, que relataram dificuldades extremas de locomoção e riscos à segurança.
- Órgãos de Controle e Direitos Humanos: A ONU manifestou-se “horrorizada” com as mortes e relembrou às autoridades suas obrigações sob o direito internacional. No STF, o ministro Alexandre de Moraes deu 24 horas para a PGR se manifestar sobre um pedido para que Cláudio Castro preste informações, no âmbito da “ADPF das Favelas”. A Alerj, o MPF e a DPU também encaminharam ofícios cobrando explicações formais do governo. A presidente da comissão de direitos humanos da Alerj, Dani Monteiro, declarou que a operação transformou as favelas em “cenário de guerra e barbárie”.
O governo federal informou que os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Lewandowski farão uma reunião de emergência com Cláudio Castro nesta quarta-feira (29) e que o pedido de transferência dos 10 detentos foi atendido.
Relatos de Pânico e Dificuldades
Moradores do Rio viveram momentos de pânico. Milhares de trabalhadores tiveram dificuldades extremas para voltar para casa, com estações de metrô e pontos de ônibus lotados.
Uma professora relatou ter ficado presa em meio a um tiroteio, precisando se abrigar debaixo da roleta de uma estação do BRT para fugir das balas. Ao conseguir chegar em casa, teve uma crise de choro.
Uma atendente grávida de 4 meses contou que as ruas de seu bairro amanheceram bloqueadas por ônibus atravessados. Ela precisou caminhar até outro bairro para conseguir transporte, e o motorista teve que alterar o itinerário para evitar áreas de confronto.
Um comunicador popular relatou ter demorado uma hora e meia para tentar chegar em casa, em Cidade de Deus, mencionando professores e crianças presos em escolas. Ele optou por caminhar, com medo de ser confundido com criminoso caso pegasse uma moto.
No IML, familiares que aguardavam para reconhecer os corpos passaram por um processo de cadastramento. Um parente de um dos mortos, que veio de outra cidade, criticou duramente a forma como os corpos foram encontrados, relatando que estavam nus e “largados de qualquer jeito”, concluindo que “nem animal se trata assim”.
Balanço da Operação Contenção
A manhã desta quarta-feira (29) começou com a cidade retornando ao estágio 1 de normalidade, com a liberação de todas as vias e a retomada dos transportes.
O balanço oficial da operação, divulgado pelo governo do estado, inclui:
- Mortos: 64 pessoas. Sendo 4 policiais (dois civis e dois do Bope) e 60 criminosos que teriam morrido em confronto.
- Controvérsia: Moradores relataram a descoberta de pelo menos outros 60 a 70 corpos em uma área de mata do Complexo da Penha, que, segundo eles, não estariam na contagem oficial. Alguns desses corpos apresentavam sinais de execução.
- Prisões: 81 pessoas foram presas, incluindo uma liderança conhecida como ‘Belão’.
- Apreensões: 93 fuzis, além de pistolas, granadas e mais de meia tonelada de drogas.
- Danos: 71 ônibus foram usados como barricadas (fontes anteriores falavam em mais de 50). Mais de 200 linhas de ônibus tiveram seus itinerários alterados.
- Educação: Aulas foram suspensas em dezenas de escolas municipais (48 unidades) e estaduais (35 unidades), além de diversas universidades como UFRJ, Uerj, Unirio e UFF.
Com informações da Agência Brasil.