Como as mudanças climáticas impactam a saúde mental: Entenda a ecoansiedade
[Foto: Ilustrativa / LensGO]
A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada entre 11 e 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão, trouxe à tona discussões sobre os impactos da degradação ambiental na saúde mental das populações. Entre os temas abordados, a chamada ecoansiedade, ou ansiedade climática, recebeu destaque. O termo descreve um conjunto de sintomas emocionais relacionados ao medo, frustração e impotência diante das mudanças no meio ambiente e suas consequências para as gerações futuras.
Definida pela primeira vez em 2017 pela Associação de Psicologia Americana, a ecoansiedade caracteriza o desconforto mental associado à percepção da degradação ambiental. Jaqueline Assis, psicóloga e pesquisadora do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília, afirma que o conceito deve ser ampliado para englobar não apenas as alterações climáticas, mas todas as questões ambientais. “Não é o clima que interfere na Terra, que interfere nas águas, estamos falando também das ações humanas e de outros tantos fatores que geram mudanças no meio ambiente e na vida das pessoas”, explica.
Jaqueline ressaltou, também, que populações indígenas e comunidades tradicionais vêm sofrendo com essas alterações há muito tempo. Ela citou, como exemplo, as transformações nos ciclos de plantio e no cotidiano, causadas por períodos prolongados de seca ou chuvas intensas. No entanto, as populações urbanas também estão começando a sentir os impactos dessas mudanças. Durante a pandemia de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o aumento das mutações de vírus, intensificadas pelas mudanças no ambiente.
A pesquisadora recordou uma fala marcante de um líder indígena ao descrever sua visão sobre o fim do mundo: “em nossa cosmovisão a gente não vê o mundo acabando, a gente não teme, mas as pessoas que acham que os alimentos vêm do supermercado devem sofrer muito nos próximos anos”. Essa reflexão, segundo ela, destaca como as questões ambientais afetam diretamente a economia e a vida cotidiana, exemplificada pela alta nos preços de alimentos básicos, como o arroz, devido a desastres ambientais, como ocorreu no Rio Grande do Sul neste ano.
Jaqueline destaca que mudanças são naturalmente ansiogênicas, mas ressalta que é possível aprender a lidar com elas para evitar que se tornem paralisantes. “As mudanças climáticas estão causando tantas preocupações que já podemos falar de um quadro de ansiedade climática ou de ecoansiedade, mas do ponto de vista da evolução da espécie, quando aprendemos a lidar com a mudança, ela deixa de ser ansiogênica e passa a ser parte do nosso cotidiano novamente”, afirma.
Ela enfatiza que os sintomas da ecoansiedade, como insônia, palpitações e alterações no apetite, são semelhantes aos de outras formas de ansiedade. Contudo, lidar com esses transtornos vai além da saúde individual. É necessário promover ações coletivas, com foco na cooperação e na esperança.
Caminhos para enfrentar a ecoansiedade
Para a pesquisadora, iniciativas que promovam a sustentabilidade e a preservação ambiental são essenciais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na saúde mental. Ela aponta a pressão de ativistas, os esforços científicos e as negociações internacionais, como a COP29, como passos importantes nessa direção.
Jaqueline também ressalta o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) no acolhimento de pessoas que enfrentam sintomas de ansiedade ambiental. Segundo ela, é fundamental “investir na adequação dos equipamentos e nos processos de acesso a informações e de capacitação das equipes envolvidas”.
Adotar uma visão integrada da vida, como defendido por pensadores como Humberto Maturana e Edgar Morin, também é crucial, destaca Jaqueline. “Não somos dominadores da natureza, nós vivemos, atuamos e somos parte dela. Na medida em que agimos sobre a natureza, ela encontra formas de reagir”, diz, apontando que essa interação pode ser harmônica ou tempestuosa.
Enquanto o mundo busca respostas para os desafios impostos pelas mudanças climáticas, Jaqueline reforça a importância de enfrentar as transformações com consciência e ação coletiva, unindo esforços para garantir um futuro mais equilibrado e sustentável.
*Com informações de Fiocruz