2024 é confirmado como o ano mais quente da história
[Foto: Ilustrativa / Richard Souza / FN]
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou, nesta sexta-feira (10/01), que 2024 é o ano mais quente já registrado, marcando um ponto crítico na luta contra o aquecimento global. De acordo com dados analisados pela agência da ONU, a temperatura média global da superfície foi 1,55 °C superior à média pré-industrial de 1850-1900, tornando este o primeiro ano civil com uma temperatura média acima de 1,5 °C.
A análise consolida uma década de recordes históricos, com os últimos 10 anos figurando entre os mais quentes desde o início dos registros em 1850. Este cenário evidencia os impactos crescentes do colapso climático, incluindo eventos climáticos extremos que afetaram milhões de pessoas em todo o mundo.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou a necessidade de ações climáticas pioneiras, pedindo que governos implementem novos planos nacionais para limitar o aumento da temperatura global de longo prazo a 1,5 °C. Ele destacou que “ainda há tempo para evitar o pior da catástrofe climática”, mas a resposta deve ser imediata e abrangente.
Especialistas atribuem o aquecimento principalmente à queima de combustíveis fósseis e defendem a transição urgente para fontes de energia renováveis como forma de mitigar os danos ambientais e sociais. Volker Turk, alto comissário dos Direitos Humanos, apelou para uma eliminação progressiva do carvão, petróleo e gás, buscando “impedir que o mundo se incendeie”.
A WMO já havia previsto, em junho de 2024, que o limite de 1,5°C poderia ser ultrapassado temporariamente dentro de cinco anos, o que se concretizou mais cedo do que o esperado. Apesar disso, a organização ainda confirma que o aquecimento de longo prazo, base do Acordo de Paris, segue abaixo do limite de 1,5°C.
Brasil
No início do mês, o Inmet divulgou um balanço apontando que o ano de 2024 foi o mais quente no Brasil desde o início das medições sistemáticas, em 1961. A temperatura média anual alcançou 25,02°C, superando o recorde anterior de 2023, que teve uma média de 24,92°C.
Os dados de 2024 indicam um aumento de 0,79°C em relação à média histórica das últimas duas décadas completas (1991-2020), que foi de 24,23°C. A tendência de elevação das temperaturas ao longo dos anos é considerada estatisticamente significativa, de acordo com o Inmet, e “pode estar associada à mudança no clima em decorrência da elevação da temperatura global e mudanças ambientais locais”.
Para o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes, o cenário evidencia a adoção de medidas na busca de parar “a aproximação com o ponto de retorno”.
Embora o coordenador-geral de Ciência da Terra do INPE, Gilvan Sampaio, aponte que 2025 possa não ser tão quente quanto 2024, as projeções indicam que o aquecimento global continuará a ser uma preocupação crescente. Sampaio destaca que desde 2014 as temperaturas anuais têm se mantido pelo menos 1°C acima da média, uma tendência preocupante. “A partir de 2014, as temperaturas [médias anuais] têm ficado pelo menos um grau acima da média. A média está crescendo em função do aumento progressivo”, disse.
Aquecimento na América
De acordo com os dados divulgados, em 2024, o continente americano enfrentou um aumento de temperatura superior à média global, com uma anomalia de 0,95°C em relação à média do período de 1990 a 2020. Isso representa uma diferença de 0,23°C a mais do que o aumento global de 0,72°C registrado no mesmo ano. O coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, destacou que esse aumento se deve a temperaturas extremamente altas em vastas áreas, como o centro da América do Sul, que inclui a Amazônia e o Pantanal, além do México. Em algumas regiões mexicanas, as temperaturas chegaram a atingir 45°C, sinalizando ondas de calor severas.
Marengo, que coordena a elaboração do relatório regional sobre o Estado do Clima, aponta que, embora 2025 possa ser um ano menos quente devido ao fenômeno La Niña — que resulta no resfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial —, a tendência de eventos climáticos extremos deverá persistir. A combinação do aquecimento global e do aumento do vapor d’água na atmosfera continua a intensificar fenômenos climáticos extremos, que, segundo Marengo, é como se estivesse “colocando gasolina no fogo”.
O pesquisador também reforça a urgência em reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) globalmente e combater o desmatamento, como forma de frear esse cenário alarmante. “As emissões de GEE precisam ser reduzidas no âmbito global, por todos os países, e também o desmatamento global”, afirmou.
*Com informações de ONU