
O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgou informações preliminares sobre o acidente com o Ascensor da Glória, em Lisboa. O documento indica que o cabo que unia as duas cabinas se soltou no ponto de fixação da cabina nº 1, responsável por iniciar a viagem no topo da Calçada da Glória.
Segundo o relatório, “foi de imediato constatado que o cabo que unia as duas cabinas cedeu
no seu ponto de fixação dentro do trambolho superior da cabina n.º 1”. Já o restante do sistema — incluindo volante de inversão, polias e fixação na cabina nº 2 — não apresentou irregularidades visíveis e estava lubrificado.
O cabo utilizado tinha capacidade de ruptura próxima de 68 toneladas. Instalado havia 337 dias, ainda se encontrava dentro da vida útil definida em 600 dias. O relatório destaca que “a vida útil definida para o cabo tem um coeficiente de segurança significativo”.
A manutenção do ascensor está a cargo de uma empresa contratada pela operadora, responsável pela instalação dos cabos, sob fiscalização da entidade proprietária. O plano de manutenção prevê inspeções periódicas, incluindo verificações visuais diárias. Segundo o relatório, na manhã do acidente, uma inspeção havia sido realizada e não detectou falhas. No entanto, a área onde ocorreu a ruptura “u não é passível de visualização sem desmontagem”.
O sistema de emergência também foi analisado. As evidências confirmam que o mecanismo no volante de inversão, projetado para cortar energia em caso de perda de força do cabo, foi acionado. “O que teria como efeito a aplicação imediata e automática do freio pneumático em cada umadelas.”, explica o relatório. Até o momento, não foi possível confirmar se o freio automático das cabinas funcionou plenamente.
Apesar disso, o guarda-freio da cabina nº 1 acionou os freios manuais e pneumáticos. Porém, conforme as constatações iniciais, “os freios não têm a capacidade suficiente para imobilizar as cabinas em movimento sem estas terem as suas massas em vazio mutuamente equilibradas através do cabo de ligação. Desta forma, não constitui um sistema redundante à falha dessa ligação”.
Outro ponto levantado pela investigação é o enquadramento legal do equipamento. O relatório afirma que “a investigação constatou que o ascensor não está na alçada da supervisão do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, I.P., não detendo neste momento (…) informação fidedigna e confirmada sobre qual é o enquadramento legal do ascensor da Glória nem sobre qual é a entidade pública que tem a obrigação de supervisionar o funcionamento e segurança deste sistema de transporte público”.
O acidente foi classificado como grave, o que implica a abertura de processo formal de investigação de segurança, de acordo com o Decreto-Lei nº 394/2007. Equipes do GPIAAF, em cooperação com o Ministério Público, Polícia Judiciária, Polícia de Segurança Pública, Autoridade para as Condições do Trabalho, além da Carris e da empresa de manutenção, recolheram evidências no local.
As cabinas, partes do cabo e outros elementos foram removidos e estão sob custódia para análises técnicas. O relatório preliminar deve ser publicado em até 45 dias, enquanto o relatório final apresentará as causas confirmadas do acidente e possíveis recomendações de segurança.
O GPIAAF reforçou que as informações divulgadas até agora são preliminares. “Do conteúdo deste documento não podem ser retiradas quaisquer conclusões válidas quanto às causas do acidente, considerando que a informação factual aqui apresentada é incompleta.”
O acidente
Um grave acidente envolvendo o Elevador da Glória, tradicional bondinho elétrico de Lisboa, em Portugual, resultou na morte de ao menos 16 pessoas e deixou 18 feridos nesta quarta-feira (03/09). O incidente ocorreu por volta das 18h05, próximo à Avenida da Liberdade, uma das principais vias da capital portuguesa. Entre os feridos estão diversos turistas estrangeiros.
Segundo informações preliminares, o bondinho perdeu o controle enquanto descia a rua e colidiu violentamente. A área foi isolada para permitir a atuação das equipes de emergência no resgate e atendimento das vítimas.
O Ascensor da Glória, inaugurado em 1885, liga a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, percorrendo um trajeto de 275 metros em cerca de três minutos. A linha leva turistas e moradores até o Miradouro de São Pedro de Alcântara, ponto de observação com vista para o Castelo de São Jorge. O bondinho é operado pela empresa Carris, que mantém duas unidades em funcionamento, com capacidade para 22 passageiros sentados e 20 em pé.
Vídeos divulgados em redes sociais mostram momentos após o acidente.
#ALERTA Se descarriló el Funicular de Lisboa, el Elevador da Glória, que realiza un recorrido por la zona vieja; obligado al viajar a Portugal. Al menos 15 muertos y 18 heridos. Con mas de 100 años de historia, no le daba mantenimiento el municipio. Turistas, muchas víctimas pic.twitter.com/7ou9NYCppb
— Víctor Sánchez Baños (@vsanchezbanos) September 3, 2025
Após o acidente, a Carris informou que cumpre programas regulares de manutenção diária, semanal e mensal e abriu um inquérito em conjunto com as autoridades para apurar as causas do descarrilamento. “A CARRIS abriu de imediato um inquérito em conjunto com as Autoridades para apurar as reais causas deste acident”, disse a empresa em comunicado oficial.
O Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa informou que diversas viaturas e equipes foram mobilizadas para prestar socorro às vítimas do acidente no Ascensor da Glória. A operação contou com a colaboração de outros agentes de Proteção Civil, incluindo o INEM, o Serviço Municipal de Proteção Civil e os Bombeiros Voluntários.
Segundo o regimento, o alerta foi registrado às 18h08 e, em apenas três minutos, os operacionais chegaram ao local para iniciar os atendimentos.
Governo Português
O Governo português e o Primeiro-Ministro divulgaram uma nota oficial sobre o descarrilamento do Elevador da Glória. No comunicado, as autoridades afirmam que “lamentam profundamente o acidente ocorrido esta tarde no elevador da Glória, em Lisboa, e exprimem a sua profunda consternação e solidariedade às vítimas e suas famílias.”.
Segundo a nota, desde os primeiros momentos, o governo acompanha de perto a situação e a atuação das autoridades de emergência. “O Governo está, desde os primeiros momentos, a acompanhar a situação e a resposta das diversas autoridades públicas de emergência médica, unidades de saúde, proteção civil, forças de segurança e transportes, a quem foram transmitidas orientações para prestação de todo o apoio necessário”, diz o comunicado.
O documento ainda informa que o governo mantém contato constante com a Câmara Municipal de Lisboa e reforça que a prioridade imediata é o atendimento às vítimas. “Sendo a prioridade imediata o socorro às vítimas, as autoridades competentes realizarão no devido tempo as averiguações necessárias ao apuramento das causas deste lamentável acidente”, finaliza a nota.
Em um outro comunicado, o Gabinete do Primeiro Ministro informou que foi decretado luto nacional no dia 4 de setembro de 2025. O texto informa ainda que o Primeiro-Ministro “cancelou a agenda prevista” para quinta-feira (04/09), tendo mantido apenas a “videoconferência no encontro de líderes da Coligação de Boa Vontade, sobre a Ucrânia e do Conselho de Ministros.”
Câmara Municipal de Lisboa
A Câmara Municipal de Lisboa decretou três dias de luto municipal em homenagem às vítimas do acidente. A medida busca prestar solidariedade às famílias e amigos afetados pela tragédia.
Em comunicado, o órgão municipal expressou suas condolências: “apresenta sentidas condolências a todas as famílias e amigos das vítimas”.