
[Foto: Ilustrativa / Richard Souza / AN]
Em uma semana decisiva para as negociações comerciais com os Estados Unidos, senadores brasileiros iniciaram na segunda-feira (28/07) uma série de reuniões em Washington com o objetivo de evitar a aplicação de uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor no próximo dia 1º de agosto. A medida, anunciada pelo governo norte-americano em carta datada de 9 de julho, pode afetar significativamente diversos setores da economia nacional.
A missão oficial do Senado é composta por oito parlamentares e coordenada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Logo pela manhã, os senadores participaram de um encontro na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, com representantes do Itamaraty, ministros da embaixada e o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo.
Na parte da tarde, a comitiva se reuniu com lideranças empresariais na sede da Câmara Americana de Comércio, em diálogo com representantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Para esta terça-feira (29), estão agendados pelo menos seis encontros com parlamentares norte-americanos, com outros ainda em tratativa.
A presença da delegação em Washington busca reforçar os argumentos brasileiros contra o aumento das tarifas, com destaque para o impacto negativo sobre ambas as economias. “Pretendemos mostrar aos parlamentares americanos que essa sobretaxa é uma medida perde-perde”, declarou o senador Nelsinho Trad. Ele reconheceu, no entanto, que o processo de negociação é complexo e deverá se prolongar além do prazo previsto para a entrada em vigor das tarifas. “Nada vai ser resolvido agora essa semana, tampouco no dia 1º de agosto. Será preciso diálogo equilibrado e sensato entre as partes”, afirmou.
A carta do presidente norte-americano Donald Trump ao governo brasileiro alegou como justificativa para a medida uma suposta perseguição judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente investigado por tentativa de golpe de Estado. Também foi mencionada a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, sob a alegação de práticas “desleais” a empresas norte-americanas, especialmente nos setores de comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, como o Pix.
A embaixadora Maria Luiza Viotti relatou que o diálogo com o governo americano teve início ainda em março, com a criação de um grupo de trabalho técnico bilateral. Na ocasião, o Brasil apresentou dados demonstrando que a média efetiva de suas tarifas de importação é de apenas 2,7%. Segundo Viotti, a carta com o anúncio das tarifas foi recebida com surpresa, já que as conversas até então vinham ocorrendo de maneira construtiva. “Seguimos à disposição para dialogar”, afirmou, acrescentando que há ações judiciais em curso nos Estados Unidos questionando a legalidade das sobretaxas.
Em meio às tratativas, um grupo de 11 senadores norte-americanos, todos do Partido Democrata, enviou uma carta ao presidente Trump na última sexta-feira (25), pedindo o cancelamento da medida tarifária e classificando-a como um possível “abuso de poder”.
Para o ex-diretor da OMC, Roberto Azevêdo, o momento é de reflexão estratégica. “O que está acontecendo agora está forçando o governo, o empresariado e a sociedade brasileira a repensarem como fazer negócios e como se aproximar mais dos Estados Unidos. Não podemos desperdiçar essa mobilização”, avaliou.
Além da missão parlamentar, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, lidera iniciativas diplomáticas para buscar uma solução à crise. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também está nos Estados Unidos, onde participa de agenda na ONU, mas mantém canais abertos para negociações com o governo americano.
De acordo com estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelo menos 30 segmentos da economia brasileira destinam mais de um quarto de suas exportações ao mercado norte-americano. Os setores mais vulneráveis à nova tarifa são o de tratores e máquinas agrícolas, com previsão de queda de 23,61% nas exportações; o de aeronaves, embarcações e equipamentos de transporte, com recuo de 22,33%; e o de carnes de aves, com redução estimada de 11,31%. A produção interna desses segmentos também deverá ser impactada.
A missão brasileira segue em Washington nos próximos dias, com o objetivo de intensificar os esforços diplomáticos para evitar que a medida entre em vigor.
Com informações da Agência Senado.