Presidente do TSE admite problemas, mas celebra primeiro turno das eleições municipais de 2020
[Foto: Arquivo/Nelson Jr./SCO/STF] [Texto: Agência Senado]
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira (16) que, apesar dos problemas técnicos e da pandemia do coronavírus, o primeiro turno das eleições municipais ocorreu em clima tranquilo e foi um sucesso. Ele destacou o ambiente de tranquilidade do domingo (15) de votação e informou que o número de ocorrências foi o menor nos últimos anos.
Segundo Barroso, o Brasil tem quase 148 milhões de eleitores e o comparecimento nas eleições deste ano foi de 113 milhões. A abstenção chegou a pouco mais de 23%, ante 17,6% do primeiro turno das últimas eleições municipais, em 2016. Ele lembrou que o Brasil e o mundo vivem um momento de restrições, por conta da pandemia. Barroso, no entanto, elogiou os estados de Piauí e Paraíba, que registraram os menores índices de abstenção do país, em torno de 15,5%.
O presidente do TSE que o tribunal tinha o receio de uma “debandada dos mesários” e apontou que havia um “plano B” para a situação, em que seriam acionadas as universidades públicas e, depois, o Ministério da Defesa. Ele destacou as campanhas de voluntariado da Justiça Eleitoral e a boa resposta da população.
— Conseguimos fazer eleições com grande sucesso, mesmo em meio a uma pandemia que já vitimou mais de 165 mil pessoas — disse.
Inclusão
O presidente Barroso também comemorou os resultados que apontam uma eleição mais inclusiva. Ele destacou que as mulheres eleitas para as prefeituras representam 12,2%, o que significa um aumento de 15% em relação às últimas eleições. O número de prefeitos eleitos que se reconhece como pretos ou pardos chegou a 32%, ante 29% da eleição de 2016. Segundo Barroso, também houve o registro de oito prefeitos eleitos que se declaram indígenas.
— Temos andado na direção certa na inclusão, embora não velocidade desejada — afirmou.
Ataques
Como já divulgado pelo TSE no domingo, o presidente Barroso confirmou que o sistema de segurança de tecnologia identificou um ataque massivo vindo tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos e da Nova Zelândia. Segundo a área técnica do TSE, o sistema chegou a registrar 486 mil tentativas de conexões por segundo. O volume de ataques teria o objetivo de interromper o funcionamento dos sistemas de tecnologia do tribunal.
— O ataque não conseguiu ultrapassar as barreiras e foi repelido pelos mecanismos de segurança. Foi enfrentado e superado pela Justiça Eleitoral — comemorou Barroso.
O ministro lembrou que foram vazados dados de servidores e ministros aposentados do TSE, mas os dados se referem ao período de 2001 a 2010 — sem qualquer ligação com a eleição. Segundo Barroso, ao mesmo tempo do ataque, milícias digitais entraram em ação nas redes sociais, tentando desacreditar o sistema da Justiça Eleitoral. Ele disse que há a suspeita de ação de grupos extremistas e que a Polícia Federal já foi formalmente notificada.
Conforme informou Barroso, 3.509 urnas eletrônicas apresentaram defeito, o que representa apenas 0,78% do total. Ele acrescentou que “todas foram substituídas a tempo e a hora”, não sendo necessário o uso de cédula de papel em nenhum local de votação do país.
Atrasos
O ministro Barroso apontou que o atraso na divulgação dos resultados da eleição é um tema delicado, já que a sociedade brasileira está acostumada a uma divulgação mais rápida. Ele destacou, porém, que o sistema de votação não correu risco de fraude e lembrou que o tribunal conseguiu divulgar os números ainda no domingo.
De acordo com o ministro, houve uma instabilidade no sistema de totalização que, durante certo tempo, ficou extremamente lento e chegou a travar durante alguns momentos. Ele informou que o TSE contratou os serviços da empresa Oracle, que ofereceu um supercomputador para o desempenho de uma tarefa nova, que era a totalização centralizada.
Segundo Barroso, por conta de novos protocolos devido à pandemia do coronavírus, esse supercomputador chegou ao tribunal apenas em agosto, embora o prazo inicial fosse o mês de março. Essa demora impediu todos os testes prévios de totalização e originou o problema ocorrido.
Em razão das limitações dos testes prévios, a inteligência artificial do equipamento demorou a realizar o aprendizado do processamento dos dados da votação, que chegavam em grande volume e em alta velocidade. A detecção e a solução do problema geraram um atraso de mais duas horas.
— Já estamos olhando para o futuro, para que no segundo turno não ocorra o atraso. Também estamos convocando a empresa responsável, para que esse problema não se repita. Temos soluções internas que poderiam resolver esse problema, mas preferimos contar com a empresa — declarou.
Totalização
Barroso também destacou que, nas eleições anteriores, a totalização de votos era feita nos tribunais regionais (TREs), mas agora passou a ser feita pelo TSE como uma medida de segurança recomendada pela Polícia Federal. Ainda segundo o presidente, os problemas registrados no acesso ao e-Título também decorreram no grande volume de busca pelo aplicativo, que chegaram a 12 milhões na manhã do domingo. Ele disse que a área técnica do tribunal já está trabalhando para evitar esse tipo de problema.
O ministro Barroso não quis responder a críticas do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre uma possível insegurança do sistema de votação e sobre a demora na apuração. Barroso disse que evita reclamar de atrasos em outros Poderes. Ele ainda destacou o papel da imprensa no enfrentamento das fake news, elogiou o corpo técnico e a assessoria do TSE e exaltou o trabalho dos presidentes dos tribunais regionais eleitorais.
— Em nenhum momento a integridade do sistema esteve em risco. Poucos países do mundo têm essa rapidez na divulgação do resultado de suas eleições — concluiu o presidente.
Ministério da Justiça
Na noite de domingo, o Ministério da Justiça divulgou boletim sobre as ocorrências durante as eleições. De acordo com o ministério, houve 189 candidatos e 1.714 eleitores presos ou conduzidos. Houve ainda R$ 653 mil apreendidos. O ministério também informou que foram registradas 1.211 ocorrências de boca de urna, 41 casos de fake news e outras 440 de compra de votos.
Fonte: Agência Senado