
[Foto: Vídeo / instagram]
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A Polícia Civil do Estado Rio de Janeiro (PCERJ) concluiu a investigação sobre o triplo homicídio ocorrido em Itaperuna, no Noroeste Fluminense, em 21 de junho. O crime, cometido por um adolescente de 14 anos contra os próprios pais e o irmão caçula, teria sido planejado em conjunto com a namorada dele, de 15 anos, apreendida no Mato Grosso.
Durante coletiva de imprensa realizada em Campos dos Goytacazes, nesta segunda-feira (1º/07), o delegado, Carlos Augusto Guimarães, titular da 143ª DP (Itaperuna), afirmou que a investigação revelou “materialidade bem robusta acerca do que realmente aconteceu”. Segundo ele, o adolescente, que confessou o crime, juntamente com a adolescente, de Mato Grosso, com que se relacionava vitualmente, mantiveram conversas por redes sociais com conteúdos que indicam o envolvimento direto dela no planejamento e incentivo ao crime.
“Ela não só planejou junto com o outro adolescente, mas também induziu e instigou a todo momento”, afirmou. As mensagens analisadas pela polícia foram trocadas pelo Instagram, usando um perfil com o nome John Wick”, disse Carlos Augusto. John Wick é um personagem interpretado Keanu Reeves em filmes de ação.
As conversas, segundo o titular da 143ª DP, detalham desde o incentivo para que o adolescente “demonstrasse ser homem” e fosse ao encontro da garota, até diálogos sobre formas de matar os pais e o irmão, o que fazer com os corpos e como esconder os vestígios. “Eles falam que o pai deveria ser o primeiro a ser executado”, disse o delegado. A adolescente teria sugerido, por exemplo, que os corpos fossem queimados ou oferecidos a porcos.
Os adolescentes poderão ser responsabilizados pelos três homicídios e pela ocultação de cadáveres. Por se tratar de um crime envolvendo menores de idade, não serão divulgados os nomes dos adolescentes envolvidos.
Motivação
A investigação aponta que uma das motivações do crime está relacionada ao relacionamento virtual entre o adolescente e a jovem do Mato Grosso. Conforme explicou o delegado, o menor conheceu a adolescente em jogos online e recebeu um ultimato para ir ao encontro dela pessoalmente. “Talvez seja verdade isso mesmo e que ela teria dado um ultimato a ele para que ele fosse para o Mato Grosso, custe o que custar”, relatou o delegado, evidenciando a pressão exercida pela jovem sobre o adolescente.
Nos diálogos entre os envolvidos, o delegado informou que ficou claro a insatisfação do pais do garoto com o relacionamento. Essa rejeição teria gerado um conflito emocional, que poderia ter colaborado para o planejamento dos crimes. O delegado explicou que havia um “ultimato acerca do término do relacionamento, caso não se encontrassem pessoalmente”, dado pela própria adolescente, demonstrando a chantagem emocional.
O carlos Augusto também destacou a submissão do adolescente às vontades da namorada. Segundo as conversas, “a adolescente diz ter achado que o adolescente não conseguiria praticar os crimes”, mas ele confirmou que ela “o motivou e que faria tudo o que ela quisesse”, revelando o domínio exercido por ela sobre ele. Essa dinâmica de manipulação reforça a participação ativa da jovem no crime.
Dinheiro
Entre os elementos analisados pela Polícia Civil como possíveis motivadores do crime, questões financeiras também foram mencionadas na coletiva na tarde desta segunda-feira. Segundo o delegado responsável pela investigação, os adolescentes demonstraram interesse direto no patrimônio da família, além de frustração com o cenário econômico vivenciado pelos pais.
Um dos pontos destacados foi a insatisfação do adolescente ao descobrir que o pai, que, segundo informações, trabalhava embarcado, não conseguiria embarcar na data prevista e que isso impactaria diretamente no recebimento do adicional financeiro que ele costumava ganhar nessas ocasiões. Nas conversas analisadas, o jovem lamenta a perda do valor extra, o que, segundo o delegado, “indica dupla motivação”.
Ainda de acordo com a polícia, os adolescentes cogitaram obter recursos para financiar um encontro presencial, já que viviam em estados diferentes. Há mensagens em que discutem maneiras de levantar dinheiro, o que inclui a ideia de vender o carro da família, avaliado em aproximadamente R$ 60 mil, e a casa onde moravam, estimada em cerca de R$ 300 mil.
Em outro trecho da investigação, o adolescente tenta acessar a conta bancária do pai, mas não consegue realizar transferências. A polícia identificou uma tentativa de pesquisar o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e registrou, por meio de imagem obtida, que a conta apresentava R$ 23.611,76.
Crime
A execução do triplo homicídio, segundo o delegado, ocorreu durante a madrugada, após os pais do adolescente ingerirem medicamentos para dormir. Conforme as conversas analisadas pela polícia, o adolescente teria utilizado uma fronha para manusear a arma de fogo, com o objetivo de não deixar impressões digitais.
Logo após os disparos, ele teria enviado à namorada uma foto dos corpos dos familiares mortos. As mensagens trocadas entre os dois revelam a continuidade do plano e o envolvimento direto da adolescente nas etapas seguintes ao crime. “A adolescente diz ter sentido nojo ao ver os corpos e informa a necessidade de utilização de luvas para tocar nos cadáveres”, destacou o delegado.
Ainda de acordo com os investigadores, o casal conversava em tempo real durante a madrugada do crime, e a adolescente demonstrava ansiedade ao perceber que o namorado demorava a responder às mensagens. A sequência de diálogos analisada pela polícia mostra que os dois jovens discutiram não só a forma da execução, como também os métodos de ocultação dos corpos e de destruição de provas.
Segundo a Polícia Civil, os adolescentes demonstraram frieza e desrespeito à vida humana. “Houve conversa acerca de esconder em local distante, a utilização de cães farejadores pela polícia, esquartejar os cadáveres, queimar e até mesmo dar para porcos comerem.”
PCMT
A participação da jovem foi confirmada por meio da colaboração da Polícia Civil de Mato Grosso (PCMT), que localizou a adolescente após solicitação do Rio de Janeiro. “O doutor Mateus Augusto, delegado muito diligente, identificou a garota, foi até a residência dela, conversou com a mãe, que se prontificou a ajudar nas investigações”, relatou o delegado de Itaperuna. A mãe da adolescente entregou o notebook da filha e forneceu as senhas de acesso às plataformas.
A adolescente foi identificada e compareceu à Delegacia de Água Boa na última quinta-feira (26), onde prestou depoimento. A escuta foi realizada como parte das diligências do inquérito que investiga as circunstâncias e motivações do caso.
A adolescente, de 15 anos, foi apreendida nesta segunda-feira (30/06), após análise de diálogos mantidos com o namorado por um perfil no instagram. Durante as investigações, segundo informou a (PCMT), foram localizadas mensagens em que o adolescente, de Itaperuna, demonstra desprezo pelos pais e relata o assassinato em tempo real à namorada, que teria incentivado os atos.
“A menor participou ativamente incentivando o adolescente a cometer os crimes. Após matar o pai, ele enviou um áudio para ela: ‘matei meu pai’, e ela respondeu: ‘atira nela agora’, se referindo à mãe dele”, contou o delegado.
Assassinato da avó do adolescente
Outro trecho considerado grave pelos investigadores diz respeito à possibilidade de matar a avó do adolescente, que reside em uma casa em frente à residência onde ocorreram os crimes. Segundo relatos do delegado, a ideia foi discutida entre os dois jovens, mas acabou sendo descartada por receio de chamar ainda mais atenção das autoridades e comprometer a versão que haviam montado para justificar o desaparecimento dos pais.
A avó foi uma das primeiras pessoas a perceber que havia algo errado. Sem conseguir contato com os pais do adolescente, ela buscou informações diretamente com o neto. De acordo com o delegado, o menor chegou a relatar que o irmão caçula havia engasgado com um caco de vidro e, por isso, os pais teriam saído às pressas com a criança em um carro de aplicativo em direção ao hospital.
Diante da situação, e sem receber retorno, a avó procurou a delegacia para registrar o desaparecimento da família em 24 de junho, três dias após os assassinatos. A partir desse momento, os policiais civis deram início a diligências e verificaram todos os hospitais da região. Nenhum deles, no entanto, possuía registros de entrada da família, o que levantou as primeiras suspeitas sobre a veracidade da história apresentada.
Alerta
Para os investigadores, o caso serve de alerta sobre os riscos da exposição de jovens a conteúdos violentos na internet e à falta de supervisão dos pais. “Esses jovens, esses jogos de violência, eles fazem a mesma coisa. Eles vivem dentro daquele mundo virtual que normaliza a violência”, declarou a delegada Natália, titular da 134º DP (Campos dos Goytacazes).
Ela completou: “A missão do pai é evitar ao máximo esse ambiente. E não estimular, e não contribuir para que cada vez mais o filho mergulhe nesse mundo.” Segundo ela, o isolamento e a falta de monitoramento podem ser fatores agravantes. “Não querer ir para a escola é um sinal. Não querer ir brincar na rua é um sinal.”
Linha do Tempo
A seguir, detalhamos os principais acontecimentos relacionados ao triplo homicídio. Os fatos mostram desde a decisão do crime, a execução, até as descobertas da polícia e as investigações que revelaram motivações e evidências importantes.
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Sexta-feira à noite (20/06)Segundo a Polícia Civil, o adolescente, que dormia no mesmo quarto que os pais e o irmão, decide cometer os crimes. Ele se mantém acordado durante a madrugada e, conforme seu depoimento, teria ingerido uma substância para se “manter ativo”.
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Madrugada de sábado (21/06)O adolescente pega a arma do pai, guardada sob o colchão do casal. Ele atira à queima-roupa:
1º disparo: cabeça do pai.
2º disparo: cabeça da mãe.
3º disparo: pescoço do irmão, de apenas 3 anos.
Após os homicídios, ele usa Veja no chão para deslizar os corpos até a cisterna da casa — localizada a 4 ou 5 metros do quarto — e os joga lá dentro. Também queima roupas das vítimas com sangue para tentar ocultar vestígios. -
Domingo (22/06) e Segunda-feira (23/06)–
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Terça-feira (24/06)A avó do adolescente, que mora em frente à casa, tenta contato com os pais e não obtém resposta. O adolescente informa que o irmão teria engasgado com caco de vidro e que os pais o levaram ao hospital em um carro de aplicativo.
A avó vai à delegacia relatar o suposto desaparecimento. Policiais verificam hospitais da região, mas não encontram registros da família. O caso é registrado oficialmente, e o delegado solicita perícia na residência ao notar inconsistências na versão do adolescente. -
Quarta-feira (25/06)Peritos e policiais encontram manchas de sangue no colchão, roupas e pontos de incêndio no imóvel. O forte odor vindo da cisterna leva à descoberta dos três corpos.
Diante das evidências, o adolescente confessa os crimes espontaneamente, na presença do tio materno, recém-chegado de São Paulo. -
Depoimento da Adolescente no Mato Grosso (26/06)A jovem do Mato Grosso, que mantinha relacionamento online com o adolescente suspeito, foi ouvida pelas autoridades locais.
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Apreensão da Adolescente no Mato Grosso (30/06)Após as investigações iniciais, a adolescente foi apreendida para prestar esclarecimentos formais. As autoridades buscavam apurar a extensão de sua participação e o possível impacto no planejamento do crime cometido em Itaperuna.
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Conclusão das Investigações (30/06)O delegado Carlos Guimarães afirmou: “Você percebe claramente um ‘quê’ de psicopatia. Perguntei sobre arrependimento e ele disse que faria de novo.” As investigações foram concluídas com base nas confissões e evidências coletadas.
Também foram encontradas pesquisas no celular do adolescente sobre como sacar FGTS de pessoas falecidas. O pai teria saldo de R$ 33 mil.
Leia mais sobre o caso
Acompanhe abaixo as principais reportagens sobre o triplo homicídio em Itaperuna, que teve desdobramentos em dois estados:
- Adolescente confessa assassinato dos pais e do irmão em Itaperuna; entenda o caso
- Itaperuna: jovem de 14 anos matou a família enquanto dormiam; veja a linha do tempo do crime
- “Não estava arrependido e faria de novo”, diz delegado sobre confissão de adolescente
- Polícia investiga ligação entre jovem que matou a família e garota do Mato Grosso
- Namorada de adolescente que matou a família em Itaperuna é apreendida em Mato Grosso