OMS alerta para uso inadequado de antibióticos no tratamento da Covid-19
[Foto: Richard Souza / AN]
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta, na sexta-feira (26/04), sobre o uso indevido de antibióticos no tratamento da Covid-19, destacando que apenas 8% dos pacientes hospitalizados com coronavírus também apresentaram infecções bacterianas que demandam esse tipo de tratamento. No entanto, um número de três em cada quatro pacientes recebeu antibióticos “por precaução”, conforme observado pela porta-voz da OMS, Margaret Harris, em comunicado divulgado.
Harris enfatizou que, desde o início da pandemia, a OMS nunca recomendou o uso de antibióticos para tratar a Covid-19, visto se tratar de uma doença viral. A recomendação da agência foi clara desde o início, ressaltando que o uso de antibióticos não era indicado para o tratamento do vírus. No entanto, Harris compreende que, devido à novidade da doença, os profissionais de saúde estavam “procurando o que achavam que poderia ser apropriado”.
As conclusões foram obtidas da análise de dados da Plataforma Clínica Global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Covid-19. Esta plataforma consiste em um banco de dados que contém informações clínicas anonimizadas de pacientes hospitalizados com a doença em todo o mundo. Os dados foram coletados de um amplo espectro de pacientes, totalizando 450 mil indivíduos, provenientes de 65 países. O período de análise compreende desde janeiro de 2020 até março de 2023, abrangendo diferentes fases da pandemia e permitindo uma visão abrangente dos padrões de prescrição de antibióticos e suas consequências nos pacientes com Covid-19.
Segundo a agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU), o uso de antibióticos apresentou variação significativa em diferentes regiões do mundo. Na região do Pacífico Ocidental, 33% dos pacientes com Covid-19 receberam antibióticos, enquanto nas regiões do Mediterrâneo Oriental e da África, esse número chegou a 83%. Essa disparidade indica uma diferença marcante nas práticas de prescrição entre as regiões.
Além disso, entre os anos de 2020 e 2022, houve uma redução gradual no número de prescrições de antibióticos na Europa e nas Américas, indicando uma possível revisão das práticas médicas e uma maior adesão às diretrizes da OMS. No entanto, na África, ocorreu um aumento no uso de antibióticos durante o mesmo período, o que sugere a necessidade de uma abordagem mais cuidadosa e direcionada em relação ao uso desses medicamentos.
De acordo com dados compilados pela OMS, o uso de antibióticos em pacientes com Covid-19 variou de 33% a 83%, dependendo da região. A maioria dos antibióticos foi administrada a pacientes em estado crítico, em uma média global de 81%. Entretanto, o uso de antibióticos em casos leves ou moderados da doença variou consideravelmente entre as regiões, com maior utilização na África.
Segundo a Organização, o uso indiscriminado de antibióticos “não melhorou os resultados clínicos para pacientes com Covid-19” e pode, na verdade, “criar danos para pessoas sem infecção bacteriana, em comparação com aquelas que não recebem antibióticos”. Além disso, o uso desnecessário de antibióticos contribui para o surgimento e disseminação da resistência antimicrobiana, representando uma séria ameaça à saúde pública global.
Diante desses dados, a OMS destaca a necessidade de melhorias no uso racional de antibióticos, visando minimizar consequências negativas desnecessárias para pacientes e populações. A resistência antimicrobiana é uma preocupação crescente que ameaça a eficácia dos tratamentos médicos e pode resultar no surgimento de “superbactérias”, tornando as infecções mais difíceis de tratar e aumentando os riscos para a saúde pública.
Resistência antimicrobiana
A resistência antimicrobiana representa uma grave ameaça à saúde pública, comprometendo a eficácia dos medicamentos utilizados no tratamento de diversas infecções. Essa resistência pode surgir quando bactérias, vírus, fungos e parasitas sofrem mutações ao longo do tempo e deixam de responder aos medicamentos tradicionalmente empregados contra eles. Como consequência, as infecções tornam-se mais difíceis de tratar, aumentando o risco de complicações graves e até mesmo de morte.
Os antimicrobianos, que englobam os antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários, são fundamentais para prevenir e tratar infecções em seres humanos, animais e plantas. No entanto, A OMS alerta que uso excessivo e inadequado desses medicamentos tem contribuído significativamente para o desenvolvimento da resistência antimicrobiana. Quando os microrganismos se tornam resistentes aos medicamentos, eles são comumente denominados “superbactérias”, destacando sua capacidade de sobreviver aos tratamentos convencionais.