Foguete HANBITNano | Foto cedida pela INNOSPACE
[Foto cedida pela INNOSPACE]
O lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-Nano, desenvolvido pela empresa Innospace, está confirmado para o dia 22 de novembro, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. A operação integra a missão Spaceward, conduzida pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), e consolida a entrada do país no mercado global de lançamentos espaciais.
Segundo o Diretor-Geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Tenente-Brigadeiro do Ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert, a operação representa um marco para o Programa Espacial Brasileiro. O oficial destacou o trabalho das equipes empenhadas na preparação do lançamento e o avanço tecnológico representado pela realização da missão a partir do território nacional.
“A FAB mobilizou equipes altamente qualificadas, com décadas de experiência na condução de operações complexas, para garantir que cada etapa seja executada com precisão, segurança e excelência. Lançar um veículo estrangeiro aqui no Brasil mostra ao mundo que nós temos infraestrutura, conhecimento e autonomia para operar em um dos segmentos mais estratégicos da atualidade”, disse.
A confirmação da data ocorreu após análises climáticas, verificações de integração do veículo e das cargas úteis, além de protocolos de segurança e avaliações de prontidão operacional. O cronograma ainda pode sofrer ajustes caso haja mudanças nas condições meteorológicas ou nos preparativos finais da missão.
A operação decorre de um edital de chamamento público lançado pela AEB em 2020, destinado a empresas interessadas em realizar missões a partir de Alcântara. Selecionada no processo, a Innospace formalizou sua participação com o Comando da Aeronáutica em 2022.
Satélites e experimentos embarcados
O HANBIT-Nano transportará oito cargas: cinco pequenos satélites e três experimentos tecnológicos, desenvolvidos por instituições brasileiras e pela empresa indiana Grahaa Space. Entre eles está o PION-BR2 | Cientistas de Alcântara, satélite educacional produzido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em parceria com a AEB, o PNUD e a startup PION. O equipamento levará mensagens de estudantes da rede pública ao espaço, além de possibilitar testes de módulos e sistemas nacionais.
A UFMA também assina o desenvolvimento do Jussara-K, criado para coletar dados ambientais em áreas remotas e comunicar-se com plataformas terrestres instaladas na região de Alcântara. O projeto contou com participação de startups e instituições públicas, incluindo FAPEMA e FSADU.
O SpaceLab da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participa com os satélites FloripaSat-2A e FloripaSat-2B, responsáveis por validar em órbita tecnologias nacionais de comunicação e geração de energia. Os dois equipamentos foram projetados e integrados por estudantes e pesquisadores com apoio da AEB e do CNPq.
Sistemas de navegação e cargas indianas
O foguete também levará o Sistema de Navegação Inercial (SNI), desenvolvido por meio de uma encomenda tecnológica da AEB em parceria com as empresas Concert Space, Cron e HORUSEYE TECH. O objetivo é validar em voo o equipamento responsável por determinar velocidade, posição e atitude do veículo, etapa necessária para futura oferta comercial da tecnologia.
A Castro Leite Consultoria (CLC) participa com dois equipamentos, entre eles o PINA-FD, Sistema de Navegação Inercial projetado para qualificação em ambiente suborbital. A operação permitirá testar o algoritmo de navegação e coletar dados para futuras aplicações.
Da Índia, a Grahaa Space integra a missão com o módulo Solaras-S2, voltado à observação da atividade solar e ao monitoramento de fenômenos capazes de interferir em comunicações e sistemas terrestres.
Início das atividades da Operação Spaceward
Os preparativos para a missão avançaram no dia 3 de novembro, com o início da fase de execução da Operação Spaceward. A FAB enviou mais 47 profissionais ao Maranhão, totalizando cerca de 400 integrantes envolvidos diretamente na operação. A equipe é composta por militares e civis especializados em áreas técnicas e operacionais, além de 60 profissionais da empresa sul-coreana.
De acordo com o Diretor do CLA, Coronel Aviador Clóvis Martins de Souza, o centro reúne mais de quarenta anos de operações e mais de 500 lançamentos realizados, reforçando a posição estratégica do sítio aeroespacial brasileiro.
“O CLA acumula mais de quatro décadas de operações ininterruptas e mais de 500 lançamentos realizados, consolidando-se como a principal base aeroespacial do Brasil e uma das mais estratégicas do mundo devido à sua localização próxima à linha do Equador. Hoje, iniciamos uma nova fase ao coordenar o lançamento inaugural do HANBIT-Nano, um foguete sul-coreano com carga majoritariamente brasileira. Esse marco demonstra nossa maturidade técnica, soberania operacional e capacidade de liderar operações complexas, atrair parcerias internacionais e impulsionar o desenvolvimento tecnológico do país”, destacou o diretor.
Autorizações e características do foguete
O HANBIT-Nano recebeu autorização de lançamento comercial da Agência Aeroespacial da Coreia do Sul (KASA) em outubro e, no Brasil, da AEB em maio deste ano. As autorizações consideraram critérios de segurança, proteção ambiental, redução de detritos espaciais e conformidade com compromissos internacionais.
O foguete possui dois estágios, utiliza propulsão híbrida e é capaz de transportar até 90 quilos de carga útil. Tem 21,9 metros de comprimento, 1,4 metro de diâmetro e quase 20 toneladas de massa total. O veículo integra uma nova geração de lançadores de pequeno porte, projetados para missões econômicas e de rápida execução.
Etapas finais e integração das cargas
A integração das cargas úteis teve início em 10 de novembro, no Prédio de Preparação de Propulsores do CLA. A etapa envolve testes elétricos, mecânicos e verificações de compatibilidade entre os equipamentos e o veículo lançador. Após a conclusão dessa fase, ocorrerá a instalação da coifa, as simulações gerais e as avaliações ambientais, seguidas dos protocolos conjuntos de segurança de voo.
Em 2023, a Innospace realizou no CLA o voo experimental do HANBIT-TLV, que validou o motor híbrido de 25 toneladas de empuxo. O teste abriu caminho para o desenvolvimento do HANBIT-Nano e de outros modelos da família, como os HANBIT-Micro e HANBIT-Mini, atualmente em fase de projeto.
Segurança
Nesta semana, as equipes responsáveis pela Operação Spaceward ampliaram os protocolos voltados à proteção das pessoas, das instalações e do veículo, em preparação para o primeiro lançamento comercial realizado a partir do território nacional. A ação é coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB).
Por se tratar de um voo inaugural, cada fase da operação segue padrões mais rígidos de controle, com monitoramento contínuo e medidas específicas para mitigação de riscos. De acordo com o responsável pela Assessoria de Segurança Operacional da missão, Capitão Engenheiro Eduardo Lopes Pinho, o trabalho envolve acompanhamento técnico permanente e observação em tempo real do comportamento do foguete ao longo de todos os procedimentos.
“Nosso compromisso é manter cada fase da operação dentro dos limites de risco estabelecidos pelo Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). A FAB oferece à Innospace uma estrutura robusta, que inclui inteligência, prevenção de acidentes e monitoramento integral do comportamento do foguete em voo. Tudo é acompanhado em tempo real, de forma técnica e coordenada”, disse Lopes.
Estrutura tripla de segurança
Segundo informações da FAB, o CLA atua com três frentes complementares de proteção: segurança orgânica, segurança de superfície e segurança de voo. A segurança orgânica concentra o controle de acesso e a proteção das áreas sensíveis, garantindo que somente equipes autorizadas circulem em setores críticos. Essa etapa também abrange ações de vigilância e inteligência.
A segurança de superfície cobre as atividades realizadas no solo, incluindo o preparo do veículo e o manuseio de materiais energéticos. Nessa fase, bombeiros, equipes médicas, engenheiros e técnicos trabalham de forma integrada para prevenir acidentes e agir rapidamente em eventuais emergências.
A segurança de voo é responsável pelo monitoramento do foguete após o acionamento do motor, identificando qualquer desvio de trajetória. Caso haja alteração nos parâmetros previstos, os sistemas de interrupção da missão podem ser acionados conforme protocolos definidos pelo CLA.
Acompanhamento em tempo real
A operação será conduzida com recursos de redundância e checagens cruzadas em todas as áreas críticas. Segundo o Capitão Pinho, o acompanhamento permanente permite identificar anomalias com rapidez e aplicar medidas previstas para impedir que um eventual problema se transforme em risco.
“Um veículo que voa pela primeira vez traz incertezas naturais, e isso é previsto nos nossos sistemas. A prioridade é garantir que, caso ocorra alguma anomalia, o evento seja contido com rapidez e sem risco para as pessoas ou para as áreas externas”, explicou o Capitão.
O CLA trabalha com margens ampliadas de segurança e mantém controle constante dos parâmetros operacionais. As medidas adotadas consideram as particularidades de um veículo em sua primeira missão e foram planejadas para garantir a proteção das equipes e da população.
Ações previstas em caso de anomalia
Se houver comportamento fora dos limites estabelecidos, inicia-se uma sequência operacional que inclui detecção da anomalia, avaliação imediata e possível ativação do Sistema de Terminação de Voo (FTS). O procedimento é aplicado para encerrar a missão de forma segura.
Nessas situações, a FAB aciona o comando que interrompe a propulsão do foguete. O veículo tem sua estrutura rompida de forma controlada para que o combustível remanescente seja consumido. Sem capacidade de continuar o voo, o corpo do foguete desce em direção ao mar, dentro de uma área previamente delimitada e definida para não oferecer riscos. O Coordenador-Geral da Operação, Coronel Engenheiro Rogério Moreira Cazo, destaca que os possíveis cenários de falha foram estudados durante cerca de dois anos pelas equipes da FAB e da empresa, resultando em regras detalhadas de análise.
“A estrutura do veículo é propositalmente rompida para que o combustível remanescente seja consumido de forma controlada. Sem força motriz e sem capacidade de continuar voando, o foguete perde sustentação e desce rumo ao mar, exatamente dentro de uma área previamente delimitada, planejada para não oferecer qualquer risco à população, às equipes envolvidas ou às instalações da FAB”, expicou o Coronel.
Apoio de diferentes instituições
O trabalho no CLA envolve uma rede de instituições civis e militares. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) emitiu um Aviso aos Aeronavegantes (NOTAM) que determina o fechamento de uma área do espaço aéreo das 12h às 23h59, entre os dias 17 de novembro e 2 de dezembro. As equipes de bombeiros, profissionais de saúde e especialistas do CLA permanecem de prontidão durante todas as fases do processo.
A Marinha do Brasil publica avisos para orientar embarcações e restringir temporariamente a navegação nas áreas de risco. Os comunicados são divulgados com antecedência nos sistemas náuticos e reforçados por transmissões de rádio durante a operação.
Outros órgãos também participam: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) acompanha os aspectos ambientais; a Defesa Civil atua em cenários de contingência; a AEB supervisiona o cumprimento das normas regulatórias; a Agência Aeroespacial da Coreia do Sul (KASA) acompanha os aspectos técnicos do veículo; e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) monitora o espectro eletromagnético e detecta possíveis interferências.
Segundo a FAB, todas as instituições atuam de forma integrada no dia do lançamento, seguindo protocolos previamente alinhados.
*As datas poderão sofrer alterações sem aviso prévio
*Com informações de FAB