
[Foto: Richard Souza / AN]
O ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adiel Pereira Alcântara, confirmou nesta segunda-feira (19) que houve ações de policiamento direcionado com o objetivo de impedir o trânsito de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT) durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A declaração foi dada em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que julga o chamado Núcleo 1 da suposta trama golpistam que seria liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Alcântara, as ordens para a realização das blitze partiram de ex-diretores da corporação, com instruções para que policiais rodoviários federais parassem ônibus que transportavam eleitores.
“Estavam criando uma polícia de governo, e não de Estado”, afirmou o ex-coordenador, que também relatou descontentamento interno na corporação quanto à associação da PRF à imagem do ex-presidente. “Grande parte do efetivo não via com bons olhos esse vínculo com a imagem do ex-presidente. Ele participava de motociatas com motocicletas da PRF e postava mensagens das apreensões da PRF”, declarou.
Outro depoente desta segunda-feira foi o agente de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, que atuava no Ministério da Justiça sob o comando do então ministro Anderson Torres. Vieira afirmou ter sido o responsável pela produção de relatórios que fundamentaram as operações da PRF. Segundo ele, as solicitações de levantamento partiram de Marília Alencar, secretária de inteligência do ministério.
Vieira disse ao STF que ficou “apavorado” ao descobrir que os relatórios estavam sendo usados para subsidiar operações consideradas ilegais. “À época, eu fiquei apavorado porque uma habilidade técnica foi utilizada para uma tomada de decisão ilegal”, afirmou. O agente também relatou que algumas blitze foram realizadas em cidades sem relevância no fluxo de trânsito, o que levantou suspeitas sobre a real motivação das ações. “O que aconteceu no segundo turno, eu sabia que ia acontecer. Por raciocínio, não por provas”, disse.
As audiências do processo seguem até 2 de junho, com a previsão de oitivas de 82 testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas. Após essa etapa, o STF deverá convocar os réus para interrogatório, em data ainda não definida.
Os oito acusados respondem por crimes como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado.
Com denúncia aceita por unanimidade pela Primeira Turma do STF em 26 de março, os integrantes do chamado Núcleo 1 são:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Walter Braga Netto, general da reserva e ex-ministro;
- Augusto Heleno, general da reserva e ex-ministro do GSI;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Paulo Sérgio Nogueira, general da reserva e ex-ministro da Defesa;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator.
A expectativa é de que o julgamento sobre a condenação ou absolvição dos réus ocorra ainda em 2025.
Com informações da Agência Brasil.