
[Foto: Reprodução de vídeo / X]
A Defensoria Pública da União (DPU) informou, nesta segunda-feira (30/06), que ingressou com pedido de tutela cautelar na Justiça Federal para garantir a realização de uma nova perícia médico-legal no corpo da brasileira Juliana Marins, que morreu após uma queda durante trilha no Monte Rinjani, na Indonésia. A medida foi tomada após solicitação da irmã da vítima, que busca esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte.
Segundo a defensora regional de direitos humanos no Rio de Janeiro, Taísa Bittencourt, a petição requer que o exame seja feito em até seis horas após a chegada do corpo ao Brasil e que o transporte até o Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, no Rio de Janeiro, seja feito por viatura da Polícia Federal ou da Polícia Civil.
A defensora argumentou que a nova perícia é essencial para evitar a perda de informações importantes e permitir a apuração de uma possível omissão de socorro pelas autoridades indonésias. “Isso pode prejudicar a determinação exata da causa da morte, e interesses legais ou investigativos, já que a família necessita de confirmação da data e horário da morte, a fim de apurar se houve omissão na prestação de socorro pelas autoridades indonésias e instruir demanda buscando a responsabilização civil e investigação residual criminal”, afirmou a petição assinada por Bittencourt.
A irmã da vítima relatou que a iniciativa contou com o apoio da Prefeitura de Niterói. “Com o auxílio do GGIM da Prefeitura de Niterói, acionamos a Defensoria Pública da União (DPU-RJ), que imediatamente fez o pedido na Justiça Federal solicitando uma nova autópsia no caso da minha irmã, Juliana Marins”, escreveu em publicação nas redes sociais.
Além da ação judicial, a DPU encaminhou um ofício à Superintendência da Polícia Federal no Rio solicitando a instauração de inquérito policial, caso ainda inexistente, para investigar a morte de Juliana. A Defensoria reforçou que seguirá acompanhando o caso, destacando o compromisso com os direitos humanos, a dignidade das vítimas e o acesso à Justiça, sobretudo em ocorrências “que envolvem violações de direitos no exterior.”
Autópsia na Indonésia
A primeira autópsia realizada no corpo de Juliana aconteceu na quinta-feira (26) em um hospital de Bali, pouco depois do resgate no Parque Nacional do Monte Rinjani, na Indonésia. De acordo com informações divulgada pela imprensa local, o exame médico-legal apontou que a brasileira morreu em decorrência de múltiplas fraturas e lesões internas, sem evidências de hipotermia, e que teria sobrevivido por cerca de 20 minutos após o trauma.
No entanto, a família de Juliana criticou a forma como o laudo foi divulgado. Mariana Marins, irmã da vítima, afirmou que os familiares foram chamados ao hospital para receber o documento, mas o anúncio do médico aconteceu antes que eles tivessem acesso ao laudo. Segundo ela, essa sequência foi considerada um “caos e absurdo”.
“Minha família foi chamada no hospital para receber o laudo, mas, antes que eles tivessem acesso a esse laudo, o médico achou de bom tom dar uma coletiva de imprensa para falar para todo mundo que estava dando o laudo antes de falar para minha família. É absurdo atrás de absurdo e não acaba mais”, disse Mariana.
Traslado
O prefeito Rodrigo Neves (PDT/RJ) afirmou, pelas redes sociais, que a gestão municipal arcaria com todos os custos da logística de repatriação e se colocou à disposição da família para oferecer apoio neste momento de luto. A decisão foi comunicada na noite de quarta-feira (25).
O ex-jogador de futebol Alexandre Pato também se prontificou a arcar com os custos do translado internacional. A oferta foi feita publicamente, como forma de apoio à mobilização que ganhou repercussão nacional.
Por meio de redes sociais, neste sábado (28/06), a irmã da jovem, confirmou que o traslado do corpo de Juliana será realizado pela Prefeitura de Niterói: “E quem vai pagar o translado da Juliana é a prefeitura de Niterói”, publicou Mariana Marins.
Na noite deste domingo (29), a família de Juliana Marins usou as redes sociais para relatar dificuldades no processo de repatriação do corpo da brasileira. Segundo os relatos, a companhia aérea Emirates, em Bali, teria recusado o transporte, mesmo após o voo já estar confirmado.
“Já estava tudo certo com o voo, já estava confirmado, mas a Emirates em Bali não quer trazer minha irmã pra casa. Do nada o bagageiro do voo ficou ‘lotado’”, publicou Mariana Marins, irmã da jovem.
Diante da situação, os Mariana pediu respeito e sensibilidade no tratamento do caso. “Pedimos que o descaso com Juliana acabe!”, afirmou.
Na tarde desta segunda-feira (horario de brasilia), a Emirates informou que o corpo de Juliana será transportado para Dubai no dia 1º de julho e, posteriormente, para o Rio de Janeiro em 2 de julho.
Segundo a Emirates, a empresa priorizou a coordenação com as autoridades locais e outras partes envolvidas na Indonésia para viabilizar o transporte, mas enfrentou “restrições operacionais [que] tornaram inviáveis os preparativos anteriores”.
A companhia também informou que a família foi devidamente comunicada sobre a confirmação das providências logísticas. “A Emirates estende suas mais profundas condolências à família durante este momento difícil”, conclui a nota.
Juliana Marins
A brasileira caiu caiu durante uma trilha no vulcão, na manhã de sábado (21/06), e deslizou por centenas de metros até uma área de difícil acesso. As buscas e mobilizações duraram quatro dias e enfrentaram dificuldades causadas por más condições climáticas, neblina densa, terreno íngreme e limitações logísticas.
Na terça-feira (24), por volta das 18h (horário local), um dos resgatistas conseguiu chegar até a brasileira, mas ela já estava sem vida. Devido à complexidade do terreno, a equipe precisou montar um acampamento no local. O içamento do corpo foi concluído nesta quarta-feira por volta das 14h45 (horário local), e o deslocamento da maca com o corpo até a entrada do parque teve início às 15h, com previsão de duração de cerca de oito horas.
A morte da jovem foi confirmada por familiares ainda na manhã de terça-feira, por meio de uma publicação nas redes sociais. A notícia causou forte comoção e revolta entre internautas, que questionaram a demora no resgate e a condução da operação pelas autoridades locais. Críticas foram direcionadas à logística empregada, à transparência das informações e à qualidade dos equipamentos utilizados. A irmã de Juliana, Mariana Marins, também questionou a estrutura disponível, classificando os materiais como inadequados.
Após o incidente, o Parque Nacional Gunung Rinjani anunciou o fechamento temporário da trilha para o Puncak Rinjani, local do acidente, como forma de garantir a segurança e facilitar a evacuação da vítima. A decisão foi tomada quatro dias após o ocorrido.
Juliana Marins era formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atuava como dançarina de pole dance. Ela compartilhava registros de sua viagem pelas redes sociais e havia passado por outros países da Ásia, como Vietnã, Filipinas e Tailândia.
O caso segue gerando grande repercussão nas redes sociais. Familiares afirmaram que vão buscar justiça e apontaram que Juliana “sofreu uma grande negligência por parte da equipe de resgate”, destacando que, se o atendimento tivesse sido feito dentro do prazo estimado de sete horas, ela poderia ter sobrevivido.
*Com informações de DPU-RJ